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| Foto: Jéssica Welma/Tribuna do Ceará |
Intitulada "Vale da Rapadura: Por que o Ceará tem as 24 melhores escolas públicas de ensino fundamental do Brasil?", matéria especial do jornal Tribuna do Ceará publicada na última terça-feira (24) traz a rotina de seis das 24 unidades de ensino de municípios do Estado que ocupam os primeiros lugares no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no Brasil. A reportagem percorreu escolas de Coreaú, Sobral e Granja.
Em todas
as seis escolas visitadas, soluções simples - mas planejadas e
executadas a rigor - desmistificam discursos de que, para avançar, a
educação precisa de muito dinheiro e investimento em tecnologias. Entre
os exemplos da rotina das escolas, atividades tradicionais e
semelhantes em todas elas: controle rigoroso da frequência escolar,
reforço para alunos com dificuldades, avaliação constante, dever de
casa, correção de tarefas em sala de aula, garantia da merenda escolar
e do material didático.
Em Granja, a reportagem visitou as escolas Eliezer Arruda e Arzília Mota. São duas das três que o município têm entre as 24 melhores do País no Ideb de 2015. A outra é a EEF Cândida Freitas.
Segundo o Atlas
do Desenvolvimento Humano no Brasil, Granja tem o segundo menor Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) do Ceará - que mede a qualidade de
vida da população, na frente apenas do município de Salitre, o mais
miserável do Estado. Os dados do último levantamento, em 2010, mostram
que, no período de 10 anos, a Educação foi o índice que mais
cresceu em termos absolutos na cidade.
A parceria da família
com a escola é um dos diferenciais apontados por Eliane Pinheiro, 35,
mãe de Lucas Pinheiro, de 8 anos, aluno avaliado na Prova Brasil de
2015 na Eliezer Arruda. “Trabalho em outra escola e não vejo o
acompanhamento das famílias. Aqui, em toda reunião, os pais estão
presentes”, ressalta.
Em 10 anos, de 2005 a 2015, o Ideb de Granja
no Ensino Fundamental I subiu de 3,3 para 7,3. A escola Eliezer Arruda
mais que dobrou a nota no exame de 2013 para 2015, de 4,0 para 9,3,
superando a meta projetada para 2021, de 5,6.
O modelo para a nova
realidade vivida pela educação segue padrões adotados nos
municípios vizinhos, inspirados principalmente na gestão de Sobral:
capacitação de professores, garantia de material escolar, atenção
individualizada a alunos com maior dificuldade, controle da frequência,
merenda escolar de qualidade e foco na habilidade de leitura.
Granja,
como outras dezenas de municípios do Ceará, mais do que simplesmente
figurar nas primeiras posições de rankings de avaliação, conseguiram
algo ainda mais extraordinário: atender alunos de baixíssima renda e
elevar seus conhecimentos a níveis de estudantes de nações mais
desenvolvidas.
A maior parte dos cerca de 52 mil habitantes de Granja vive na zona
rural. Os alunos dependem do transporte escolar oferecido pela
Prefeitura. O sub-secretário da Educação, Fernando Angelim, afirma
que a gestão tem priorizado a qualidade do transporte e substituídos
os velhos “paus de arara”, mas a precariedade dos veículos ainda é
gritante. Enquanto a reportagem do Tribuna do Ceará acompanhava a
saída dos alunos, duas caminhonetes foram flagradas.
“Quando
recebemos o município, tínhamos 14 escolas entre as 150 piores do
Estado. No primeiro ano (de gestão) começamos a resolver. Conseguimos
colocar três escolas, em 2014, entre as 150 melhores do estado. Em
2015, conseguimos colocar cinco entre as 100 melhores do Brasil”, afirma
Fernando.
Dentre as mudanças, uma atenção especial à
alimentação das crianças. O município passou a controlar a
distribuição da alimentação para que não houvesse lacuna no
abastecimento e a ofertar dois lanches para os alunos da educação
infantil: um quando a criança chega à escola e outro no horário
tradicional de intervalo.
"Uma criança melhor alimentada aprende melhor", pontua a diretora da escola, Denise Pereira.
Na prática
Local, data, destinatário, saudação, assunto,
despedida e assinatura: no dia em que o Tribuna do Ceará visitou a
escola Eliezer Arruda, os alunos do 2° ano aprendiam a escrever uma
carta. O destinatário era o mesmo: o Papai Noel. Antes, liam "A Carta
do Gatinho para o Papai Noel", com todos os exemplos.
"Querido
Papai Noel, sei que neste ano não me comportei como deveria, rasguei o
sofá, a cortina, quebrei o jarro da mesa da mamãe...", confessava o
gatinho. A partir do lúdico, as crianças vão aprendendo as regras da
escrita e desenvolvendo as habilidades de uma boa alfabetização.
"Aqui,
a gente não prepara só para a prova (Prova Brasil). Tem uma mãe que
sempre diz pra mim que o filho dela não sabia ler, e o marido dela
dizia que ele não aprendia porque tinha deficiência. Ela dizia: 'Ainda
vou encontrar uma professora que vai fazer com que meu filho aprenda'",
conta orgulhosa a professora Maria do Livramento Monção de Carvalho,
de 26 anos.
Indisciplina
Diante dos esforços para alavancar a
educação, a gestão de Granja esperava bons resultados no Ideb, mas se
surpreendeu com a presença de três escolas no topo do País. Outra
delas, a escola Dona Arzília Mota, recebe o nome de uma ex-professora
do município e está localizada em um dos bairros mais pobres da
cidade, o São Pedro.
"Aqui é todo mundo pobre mesmo, não tem
'classe média baixa'. A maioria das famílias são carentes de tudo,
carentes financeiramente, carentes de educação, carentes de cultura",
lamenta o diretor da escola, Pedro Elias Sousa.
Há pais que,
diante da pouca educação que receberam, não veem futuro em mandar o
filho para escola, não enxergam perspectivas de melhorar de vida
através da escola.
No final de 2012, quando a nova diretoria
chegou à escola, a Arzília Mota, por estar entre as 150 piores do
Estado, era apoiada por outro município. De lá para cá, a realidade
mudou. Hoje, a Arzília Mota apoia escolas no município mais rico do
Estado: a capital, Fortaleza. Nessa relação, as escolas fazem seis
visitas uma a outra para trocar experiências sobre o dia a dia e as
metodologias utilizadas para melhorar a condição da parceira.
"O
maior desafio hoje é a questão da disciplina. A indisciplina é o que
tem causado grandes transtornos na escola, dificultando o trabalho do
professor", ressalta Elias. Há casos em que os pais dos alunos são
convidados para assistir à aula junto ao filho.
Não à toa, o
problema é pontuado em todos os níveis. O aluno Marcelo Magalhães, de
12 anos, um dos destaques da escola, afirma que, se pudesse promover
alguma mudança, ela seria no compromisso dos outros colegas.
"Eu
queria que os alunos focassem mais nos estudos, porque não tem muito
aluno focado. Melhoraria (isso) para a escola ter mais desempenho", diz
Marcelo.
A professora Niciane dos Santos Dourado, de 34 anos, dá
aulas na Arzília Mota há oito e frisa que o maior desafio nesse tempo
foi estabelecer uma parceria com a comunidade. "Quando os pais
começaram a se conscientizar que o aluno, quando chega em casa, também
tem que estudar, o rendimento começou a melhorar", afirma.
Os
planos para 2017 são positivos: com o dinheiro que recebem do Governo
do Estado quando são avaliadas como Escola Nota 10, a previsão é de
levar mais conforto para os alunos, com algumas salas de aula
climatizadas.
A educação possibilita avanços. Se nem sempre
físicos e imediatamente visíveis, como uma boa estrutura escolar;
esses avanços se operam dentro de cada aluno e de cada família,
abrindo caminhos para um futuro com novas oportunidades.
A reportagem completa do Tribuna do Ceará pode ser conferida AQUI.








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