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Cachaça de raiz de maconha,´Pitúconha´ é vendida como souvenir no sertão pernambucano (Foto: Daniel Carvalho/Folhapress) |
Encravado no “polígono da maconha”,região pernambucana famosa pela
produção da erva em áreas irrigadas pelo rio São Francisco,o município
de Cabrobó (a 531 km do Recife) vem se tornando conhecido por um
“souvenir” peculiar:uma cachaça artesanal com raiz de maconha,a
“Pitúconha”.Com o rótulo que se apropria da tradicional marca pernambucana de aguardente Pitú,a bebida é facilmente encontrada em bares e carrinhos que vendem espertinhos de carne,ao custo de R$ 1 a dose e R$ 30 a garrafa.
“Aguardente
de cana adoçada com raiz de maconha”,informa,sem pudor,o rótulo da
garrafa de 965 ml.“O Ministério do Transporte adverte:o perigo não é
um jumento na estrada.O perigo é um burro no volante”,completa,em tom
jocoso,o aviso da embalagem.
A reportagem conversou com um servidor
municipal que,aos finais de semana, vende doses de cachaça de maconha
em seu carrinho de churrasco.Ele diz que algumas pessoas coletam
as raízes que sobram das operações policiais de erradicação dos pés de
maconha e vendem para os produtores de cachaça.Um saco de 30 kg sai a
R$ 100.
O servidor,que vende a cachaça há cinco anos,afirma que
chega a comercializar até seis garrafas por semana.“Já virou souvenir.Tem um pessoal do banco que compra de carrada.O pessoal tem muito
interesse de conhecer.Houve até um leilão na capital.Saiu por R$ 200″,afirma.
ILEGAL
Segundo a Polícia
Federal,ainda não há clareza sobre a situação legal da bebida. Perícia
feita pela PF no ano passado indicou pequenas concentrações de THC
(tetraidrocanabinol),o princípio ativo da maconha,nas raízes.
Desde
o início do ano,policiais federais e colaboradores que participam das
operações de erradicação de plantações da droga foram proibidos de
trazer e distribuir as raízes,que,ao contrário do restante da planta,não são incineradas.
“Se você for levar ao pé da letra,seria
crime [a comercialização da raiz e, consequentemente,da bebida] porque
tem o princípio ativo.Só que a concentração é baixíssima.É uma questão
que ainda não se tem uma posição definida”,afirma Carlo Correia,chefe
da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal em
Pernambuco.
De acordo com o artigo 2º da lei 11.343/2006,“ficam
proibidas,em todo o território nacional,as drogas,bem como o plantio,a cultura,a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais
possam ser extraídas ou produzidas drogas”.
A exceção é para
autorizações legais e para o que estabelece a Convenção de Viena (1971) a
respeito de plantas de uso “ritualístico-religioso”.
“A lei não
especifica a quantidade de THC.A questão é de ordem prática: a
concentração é muito pequena.Não existe uma repressão sistematizada até
hoje”, diz o delegado.
Correia afirma que há quem peça raízes
aos policiais para tratar dor na coluna, problemas de estômago e asma.“Não existe nenhuma comprovação científica de que a raiz de maconha
tenha alguma função terapêutica”,diz o delegado.
Com informações da Folha.com
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