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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A cada seis dias, um idoso morre no trânsito de Fortaleza

Foto: Reprodução / O Estado Ce
A dificuldade nos movimentos e outras limitações próprias do idoso faz com que eles se tornem mais vulneráveis a acidentes de toda natureza. No entanto, quando ele utiliza transporte público, essa vulnerabilidade aumenta ainda mais. Em Fortaleza, por exemplo, a cada seis dias, um idoso morre no trânsito.
O dado é da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) e divulgado pelo promotor da 17ª Promotoria de Justiça Cível de Fortaleza, Alexandre de Oliveira Alcântara, que também é especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Ainda segundo a Perícia, em cinco anos, 332 idosos morreram atropelados na capital cearense. O número dá a média de 66 idosos mortos por ano e cerca de cinco por mês.
Em entrevista ao Jornal O Estado, o promotor afirma que o número é alto e se deve, principalmente, a falta de educação e respeito de motoristas e população em geral sobre o cumprimento da lei dos idosos, aliada as negligências do poder público. “São várias as causas, mas a falta de educação de todos os envolvidos no trânsito é o principal. São muitas as mortes ocorridas em embarque e desembarque nos ônibus. Falta um treinamento aos que atuam no trânsito. Não existe investimento nessas qualificações”, afirmou Alexandre.
Ele afirmou, ainda, que a equação pressa e trânsito também são causadores dos acidentes. “O componente da pressa resulta em graves acidentes e mortes, principalmente no transporte coletivo. O que adianta fazer viagens mais rápidas se não são realizadas com segurança e colocam a vida das pessoas em risco? A lógica não pode ser a arrecadação. Escuto também muitos relatos de idosos que relatam desrespeitos por parte dos motoristas de ônibus que “queimam” paradas e de motoristas que não esperam o idoso subir no ônibus para acelerar o veículo”.
Na última sexta-feira (18), um idoso de 70 anos morreu atropelado por um ônibus na Avenida da Abolição, em Fortaleza. O idoso estava tentando pegar o ônibus, quando caiu e o veículo passou por cima. O motorista do veículo tentou prestar socorro, mas o idoso não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
Direitos
De acordo com o promotor, estudos mostram que a segunda causa externa de morte dos idosos são os acidentes de percurso no trânsito. Alexandre de Oliveira Alcântara acrescenta que o desrespeito aos direitos dos idosos, bem como as atitudes dos motoristas no trânsito de Fortaleza, devem ser discutidas sob condição da não mudança da realidade.
Ele explica, ainda, que o número de mortes de idosos no trânsito tende a crescer devido ao aumento significativo da população idosa nos próximos anos e a falta de investimentos em educação no trânsito. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Ceará existem, hoje, cerca de 840 mil idosos, o que representa 10% da população. “O trânsito é mundialmente conhecido pela violência e pelo alto número de vítimas todos os dias. Daqui a alguns anos vamos ter a sexta maior população de idosos do mundo e não estamos preparados para isso. Não estamos preparados para essa transição demográfica. Isso é fato e esse cenário de calamidade precisa ser modificado”, falou.
Alexandre Alcântara destaca que a população idosa deve procurar seus direitos quando se sentirem lesados, mas relata que é preciso haver mudanças em vários aspectos relacionados ao transporte público no serviço aos idosos. “A Etufor é o órgão que fiscaliza, mas é ineficaz. Não tem nenhum número 0800 para denúncias dos usuários. Já fizemos recomendações a Etufor. A qualificação dos motoristas é uma condição necessária, assim como o investimento em educação para o trânsito e do próprio idoso. Também constatamos que, nos terminais, as condições físicas são ruins, sem acessibilidade. É preciso entender que houve aumento da demanda e a estrutura precisa acompanhar isso. É uma situação complexa, mas tem que ser enfrentada”, finalizou.
Fiscalização
Em resposta, o vice-presidente Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Antônio Ferreira, afirma que a Etufor atua nos terminais organizando as filas preferenciais e fiscalizando o cumprimento da legislação do Estatuto do Idoso e do regulamento do transporte coletivo. “Estamos embarcando primeiro a fila prioritária para depois embarcar o usuário comum. Também fiscalizamos o uso dos assentos preferenciais, colocamos fiscais nas paradas de ônibus e realizamos a capacitação dos motoristas. A gente tem parceria com o Sindionibus e o Sest Senat para os cursos e reciclagens dos motoristas. Mais de cinco mil motoristas já estão capacitados nesse aspecto de acessibilidade e tratamento de pessoas idosas e deficientes”, disse, acrescentando que o idoso que se sentir prejudicado, pode ligar para a Ouvidoria da Etufor: 3452.9292. “Ele deve dizer o local, a hora e o número do ônibus. Com isso, o motorista é identificado, chamado e pode ser suspenso ou até demitido”, avisou.


As informações são do jornal O Estado CE

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