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quarta-feira, 4 de março de 2015

Sem água, Crateús espera intervenção divina e funcionamento de adutora

Cada um dos 22 carros-pipa que abastecem a cidade tem
que fazer, pelo menos, três viagens por dia.
(Fotos: Rodrigo Carvalho)
O colapso hídrico transformou Crateús, a 354 km de Fortaleza, na primeira sede municipal do Ceará a não ter água em nenhuma torneira. Ricos, pobres, crianças, adultos, moradores do Centro ou de bairros distantes - para todos a chegada do carro-pipa é sinal de que baldes e latas devem ser levados ao abastecimento. A entrega de uma adutora é esperada. Uma ação divina também.
Desde janeiro, as águas do açude Carnaubal e da Barragem do Batalhão não dão mais conta do abastecimento da cidade. Dez poços profundos e 17 caixas d’água abastecidas por 22 carros-pipa (que trazem o que é retirado do subsolo do Carnaubal e de poços) são as únicas formas de conseguir água. Há também quem compre, pagando R$ 50 por mil litros.
Neste ano, as precipitações somaram 200 milímetros em Crateús. Foi chuva muito bem recebida pelos vasilhames postos nas bicas das casas. “Caiu água faz uns dias e deu para aparar um pouco. Ficamos muito felizes. Com fome a pessoa passa, mas com sede não dá”, ensina Lúcia Martins, 44. Ela mora no bairro Boa Vista. Lá o carro-pipa não passa mais. O jeito é usar água de um cacimbão. “A água é meio amarelada, mas boa”, descreve.
Na cidade, moradores do bairro Altamira descobriram que a cisterna de uma escola desocupada poderia evitar a espera, no meio da rua, pelo caminhão d’água. “Fizemos um mutirão para consertar a cisterna e regulamos a retirada a cinco baldes por pessoa, das 8h às 10 horas e das 16h às 18 horas”, conta Beatriz Oliveira, presidente da associação comunitária.
Agonia e fé
Os reservatórios de Crateús estão visivelmente vazios e conseguem traduzir a agonia de quem não vê água neles há meses. No Rio Poti, que tem a missão de direcionar água aos reservatórios, há apenas pedras. No Açude do Governo - como é chamado -, o agricultor Marcos Chagas até tentou pescar, mas a situação do espelho d’água não ajudou.
Já na Barragem do Batalhão, que serve como estação elevatória da Cagece, uma cruz foi fincada em uma das rochas do agora visível fundo do reservatório. “Um padre veio ouvir o clamor pela água e fazer uma celebração”, lembra o militar Antônio Gomes, 64.
Saiba mais
Conforme a Prefeitura, Crateús tem 83 poços perfurados, mas apenas 30% conseguem ter boa vazão.
A água retirada dos poços é apta para o consumo humano, também conforme a Prefeitura de Crateús.
Ainda não há um valor das ações emergenciais desenvolvidas no município para garantir o abastecimento.
Cada um dos 22 carros-pipa que abastecem a cidade precisa fazer, pelo menos, três viagens por dia.
Entre as ações estruturantes pensadas pela Secretaria dos Recursos Hídricos de Crateús para a cidade está a perfuração de poços nas localidades de Barra, Tucum e Poranga. 


As informações são da repórter Sara Oliveira, do O Povo Online

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