"Só add com scrap". "Leio, respondo, e apago". "Topo dos
depoimentos". "Sou 80% legal, 90% confiável e 100% sexy". Se você esteve
na internet durante os anos 2000, provavelmente deve se lembrar dos
elementos acima, símbolos da era do Orkut. A "primeira rede social" de
muitos brasileiros vai fechar as portas amanhã, depois de 10 anos de
recadinhos, discussões em comunidades e depoimentos melosos.
Mas
não é o fim. A antiga rede social do Google está criando um acervo de
comunidades, onde ficarão guardados posts e discussões importantes para a
história da internet do País. "O arquivo preserva a memória do Orkut,
registrando fenômenos do Brasil como a ascensão da classe C e a inclusão
digital", declarou o Google Brasil em nota.
No
acervo, será possível entrar nas comunidades e ver o que foi discutido
nelas, mas os donos das postagens serão identificados apenas por seus
nomes, sem fotos ou links para perfis. Tal como num museu, será possível
somente "apreciar" o conteúdo. Para o Google, "o arquivo é uma cápsula
do tempo do início das redes sociais".
Além do acervo, a
empresa ainda criou uma ferramenta para que os usuários guardem seus
perfis, com fotos, recados e a descrição caprichada que muita gente
usava para impressionar os amigos (veja abaixo). O backup pode ser feito
até setembro de 2016.
Fórum
Criada em 2004 pelo
turco Orkut Buyuykotten, a rede social foi popular até 2011, quando foi
superada pelo Facebook no Brasil, e passou ainda a ter um "rival dentro
de casa": o Google+, introduzido pela empresa naquele ano para unir
diversos serviços em um ambiente social. Ainda assim, o Orkut tem seu
público cativo até os dias de hoje: em junho de 2014, 4 milhões de
brasileiros usaram o site, segundo dados da ComScore.
"Nunca
parei de usar o Orkut, para espanto das pessoas ao meu redor", conta
Leonardo Bonassoli, criador da comunidade "Futebol Alternativo", que
discute temas como a terceira divisão do campeonato paranaense ou a
rivalidade entre as seleções da Romênia e Hungria. "Nós discutíamos o
lado B do futebol."
Já o interesse em comum por notícias
bizarras era o que unia os 80 mil membros da "Anão vestido de palhaço
mata 8", criada por Marcos Barbará. "O Orkut era fantástico para
conhecer pessoas, e as comunidades eram o auge disso. Qualquer bizarrice
encontrava eco lá", diz ele, que lançou um livro com o título da
comunidade, reunindo histórias como "americano açoita namorada com atum"
ou "Jesus aparece em banheiro e é vendido por US$ 2 mil".
Figurinha
As
comunidades não eram só ambientes de discussões, mas algumas delas eram
apenas veículo para piadas. É o caso da "Indiretas Já!" e da "Não vi
Beatles, mas vi Molejo", criadas pelo publicitário Bruno Predolin, dono
de 715 comunidades.
"A maioria das minhas comunidades eram
como figurinhas, todas levadas para o humor. Mas era parte do Orkut: se
você queria conhecer alguém, as comunidades serviam para mostrar quem a
pessoa era", diz. Para ele, o que vai deixar saudade é a comunidade
Discografias, que reunia links para download de música de forma ilegal,
deletada em 2012. "Conheci muita coisa de música brasileira ali",
lembra. "O Orkut foi a iniciação digital de muita gente", diz o rapaz,
que chegou a receber R$ 500 por mês do canal pago HBO para promover a
emissora em seus grupos.
RG digital
O criador da
"Indiretas Já" não foi o único a capitalizar com o sucesso de suas
comunidades no Orkut. O humorista Maurício Cid, hoje conhecido pelo site
de humor Não Salvo, começou sua trajetória digital criando comunidades
engraçadinhas, como a "Quando pisei parecia água viva". "Tive mais de
mil comunidades, usava o Orkut como o Twitter, só com piadas. Um dia o
Orkut excluiu meu perfil por causa de uma denúncia. Foi quando eu
resolvi que tinha que ter um site próprio", explica ele, que hoje tem
mais de 2,4 milhões de fãs no Facebook e é referência em humor na web no
País.
"O Orkut era o RG digital do brasileiro", avalia o
humorista, que acredita que a plataforma do Google tinha muitas
vantagens com relação ao Facebook. "No Orkut, você ia atrás do conteúdo.
O conteúdo não vinha te encher o saco", comenta. Apesar de ficar triste
com o fim da rede social, Cid entende a decisão do Google. "Se um
produto dá prejuízo, não tem porque deixar no ar. É dinheiro em jogo."
Com informações do Estadão.com
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