Com pouco mais
de 3,1 mil domicílios, Pimenteiras tem baixo
IDH. Ministério Público
solicitou a suspensão do processo
(Foto: Gilcilene Araújo/ G1)
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Um fato curioso despertou a atenção e indignação da população da cidade de Pimenteiras, a 252 km de Teresina,
Sul do Piauí. Ao descobrir que a prefeitura abriu uma licitação para
construir 38 cemitérios, os moradores avaliaram ser desnecessário o
gasto de quase R$ 1 milhão, valor previsto no edital.
Levando em
consideração os 11,7 mil habitantes, a cidade teria em média um
cemitério para cada grupo de 300 pessoas. Enquanto isso, a capital
Teresina que possui quase 830 mil habitantes dispõe de apenas 20
cemitérios. A licitação chamou a atenção do Ministério Público que
solicitou a suspensão do processo.
Pimenteiras registra por ano uma média de 124 mortes, segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com pouco mais
de 3,1 mil domicílios, a cidade tem baixo Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), renda per capita de R$ 3,3 mil e um dos menores Fundos de
Participação dos Municípios (FPM), R$ 529 mil por mês.
De acordo com Sinobilino Pinheiro, promotor de justiça da 2ª promotoria
de Valença, responsável por Pimenteiras, a medida é desproporcional e
fere o princípio da razoabilidade na administração pública.
“A postura deste órgão fere a moralidade, legalidade e razoabilidade dos
atos administrativos. Não dá para aceitar que a prefeitura de uma
cidade pequena gaste quase R$ 1 milhão com a construção de cemitérios,
por isso uma ação cautelar foi ajuizada, assim o município não poderá
repassar qualquer recurso para a empresa vencedora da licitação.Também
queremos saber qual o envolvimento dos servidores neste ato, tanto que
será instaurado um inquérito civil público para apurar a participação
deles”, disse o promotor.
O secretário de governo e presidente da comissão de Licitação, Alex
Lacerda, explicou que os recursos serão utilizados não na construção de
cemitérios, mas para elevar muros nos que já existem na cidade.
Entretanto, conforme um levantamento feito no Diário dos Municípios em nenhum momento a prefeitura menciona a palavra 'muros' no processo licitatório.
“Não vamos fazer novos cemitérios, mas construir muros nos que já
existem e estão localizados na zona rural. Vamos fazer isso porque temos
de nos adequar a uma norma do Ministério da Saúde ao determinar que
todos os cemitérios sejam murados. Além disso, a medida servirá para
impedir que animais entrem no local e danifiquem os túmulos. Erramos em
não mencionar no edital que o dinheiro será gasto para levantar muros
nos cemitérios, e não para a construção de novos. Vamos retificar em
breve”, justificou.
A prefeitura prevê no edital que, além do dinheiro do FPM, também serão
usados na construção recursos do Fundo Municipal de Saúde, Circulação
de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte (ICMS) e do
Imposto Sobre Serviços (ISS).
A licitação de quase R$ 1 milhão teve como base a tomada de preço
publicada no Diário Oficial dos Municípios no dia 27 de agosto, com
abertura dos envelopes no dia 12 de setembro. Segundo consta no Diário
do dia 18 de setembro, a empresa George Maciel Engenharia LTDA, de
Valença, foi a única participante do processo e receberá R$ 930.238,90
mil para fazer a obra que iniciará ainda este mês e deverá ser concluída
no final de 2014.
A construção de 38 cemitérios chamou atenção dos funcionários da única
funerária do município. Eles afirmaram que em Pimenteiras são
realizados, em média, apenas quatro velórios por mês.
“Não sei qual é a intenção do prefeito em construir tantos cemitérios,
mas se ele está prevendo tantas mortes, nós temos que nos preparar para
atender a todos porque somos a única funerária no município. Além disso,
não vejo necessidade destas obras porque nenhum dos cemitérios está com
sua capacidade acima do permitido. Não temos cemitérios lotados, em
todos há vagas”, disse a gerente da funerária Antônia da Costa.
O valor da obra tem revoltado os moradores que alegam ser desnecessário um investimento deste tamanho.
Para o vendedor Francisco de Assis, os R$ 930.238,90 mil deveriam ser
usados na compra de medicamentos. Ele alerta que a farmácia do posto de
saúde do município está com o estoque de remédios reduzidos. “Quando
vamos pegar algum medicamento na farmácia do posto não encontramos. Há
dois meses eu sofri um acidente e precisei usar uma pomada, mas tive
que comprar porque não tinha no posto de saúde”, lembrou.
Secretário de Pimenteiras diz que vai murar cemitérios e não construir (Foto: Gilcilene Araújo/ G1) |
A comerciante Maria de Fátima, 38 anos, também reclama da decisão da
prefeitura e diz que a cidade possui outras necessidades. Ela cita, por
exemplo, a falta de pavimentação em algumas ruas e a ausência de
saneamento básico em Pimenteiras. “Não dá para entender a postura do
prefeito em mandar construir essa quantidade de cemitérios. Acho que ele
deveria usar este dinheiro em outros setores como saúde e educação.
Esse valor deveria ser gasto com vivos e não com os mortos”, disse.
Ainda conforme o secretário Alex Lacerda, as construções dos muros nos
cemitérios são necessárias e há dinheiro em caixa para custear as obras.
"Fizemos um levantamento do número de cemitérios que existem na cidade e
vimos que é viável, mas não usaremos apenas o dinheiro do FPM porque
também há verba de outros setores”, argumentou.
Em contrapartida, o Ministério Público diz que mesmo a prefeitura de Pimenteiras pretendendo apenas construir muros, como justificou o secretário, a licitação continua ferindo os princípios da administração pública. “Mesmo que sejam construídos apenas muros é muito dinheiro para uma obra que não é tão necessária para o município. Em Pimenteiras, há investimentos que deveriam ser feitos em outros setores e por isso não vamos aceitar que este dinheiro seja gasto com muros ou na construção de cemitérios”, finalizou.
Em contrapartida, o Ministério Público diz que mesmo a prefeitura de Pimenteiras pretendendo apenas construir muros, como justificou o secretário, a licitação continua ferindo os princípios da administração pública. “Mesmo que sejam construídos apenas muros é muito dinheiro para uma obra que não é tão necessária para o município. Em Pimenteiras, há investimentos que deveriam ser feitos em outros setores e por isso não vamos aceitar que este dinheiro seja gasto com muros ou na construção de cemitérios”, finalizou.
Com informações do portal G1/PI
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